Sou fonoaudióloga e recebo muitas perguntas de pais preocupados com o desenvolvimento da fala de seus filhos. É certo que cada criança se desenvolve de forma diferente.. umas mais adiantadas, outras mais lentas, mas todas no seu tempo certo. Aqui, quero falar um pouco sobre o desenvolvimento normal da fala e o que pode estar fora desse padrão. Lembrando sempre que ao observar que seu filho está com um atraso, procure uma avaliação fonoaudiológica.
Primeiro, quero falar sobre o meio mais importante para proporcionar o desenvolvimento da linguagem, que é a nossa casa. Os pais/cuidadores, tem esse papel fundamental. A linguagem é considerada a primeira forma de socialização da criança, e, na maioria das vezes, é efetuada pelos pais por meio de instruções verbais durante atividades diárias, assim como por intermédio de histórias que expressam valores culturais. Uma criança muito bem estimulada desde cedo, desenvolve mais cedo a fala.
Conforme a criança cresce vai ocorrendo uma maturação neurológica, que organiza a fala dela. Então ela começa a compreender que cada som tem um jeito diferente de se falar, e com o passar do tempo ela adquire os fonemas da fala. Cada fonema tem uma forma diferente, sendo que elas vão aprendendo os fonemas mais fáceis até os mais difíceis. Estes necessitam de mais modulações nas estruturas. Abaixo segue os sons que são esperados de acordo com a idade:
Aos 18 meses
Nessa idade a criança deve estar falando corretamente o som: B, M e P.
“Baba”; “Mamãe”; “Papai”
Por volta do primeiro aniversário, a maioria das crianças começa a falar suas primeiras palavras com significado, geralmente na forma de vocábulos isolados. Esta é a fase da pré-conversação: a criança começa a vocalizar mais nos intervalos que é deixada livre pelo adulto. Agrupam sons e sílabas repetidas à vontade, começa a nomear as coisas, o surgimento das palavras funcionais facilita o seu convívio com os familiares e “estranhos”. Nesta fase a criança tende generalizar, fazendo com que haja um prolongamento semântico (exemplo: cachorro para todos os animais – “auau”)
Aos dois anos idade
A criança tem que ter adquirido os sons: T, D, N.
“Pato”; “Dedo”; “Não”
No segundo ano de vida da criança acontece o controle voluntário completo sobre os OFAs, todo o aparelho fonador começa a se organizar. Começa o surgimento das palavras associadas das frases, aparecendo frases com duas ou três palavras. O que antes eram palavras soltas, passa a ser mais próximo à fala adulta, junto com plurais; as frases negativas são utilizadas por meio de um simples NÃO isolado ou colocado sempre no final (exemplo: comer NÃO).
Aos dois anos e meio
Os fonemas que devem ser falados certos: K/C, G e NH.
“Gato”; “Ninho”, “Coca”.
Aos três anos de idade
Os sons que ele já deve fazer são: F, V, S e Z.
“Faca”, “Sapo”, “Vaca”.
Com três anos de idade a criança começa a internalizar o mundo, consegue reconhecer lugares que esteve antes, entende ordens duplas simples (exemplo: fecha a gaveta e me dá o livro); tem noção espacial, é capaz de responder perguntas do tipo: o que você usa para sentar? o que você faz quando está com fome?
Aos três anos e meio
Com essa idade a criança tem que falar certo os fonemas: X/CH e J.
“Chapéu”, “Joga”.
Aos quatro anos de idade
Ao completar quatro anos, a criança já deve estar falando corretamente os fonemas, podendo ainda ter omissões e trocas nos encontros consonantais com R e L, como: “Prato”, “Planta”. Os fonemas que a criança fala certo: L, LH, R e RR.
“Olho”, “Girafa”, “Carro”, “Bola”.
Ainda nessa idade eles começam a falar o arquifonema do R e do S, como: “Porco”, “Mosca”.
A partir dos quatro anos de idade a criança já executa ordens de três itens, já é capaz de dar seu nome completo e nome dos pais; se lermos alguma história simples, é capaz de responder perguntas
Aos cinco anos de idade
Com cinco anos, a criança deve estar falando corretamente todos os sons, e não apresentar mais trocas e omissões.
Temos que ter em mente que há crianças que vão estar mais adiantadas na compreensão da linguagem e não corresponderem à idade devida na expressão oral. O que foi explicado acima serve de parâmetros para iniciar uma estimulação, se for o caso; serve para orientar pais e cuidadores sem a preocupação de etiquetar diagnósticos.
Outros fatores que atrasam o desenvolvimento da linguagem, são alterações auditivas, algumas síndromes, doenças maternas na gestação, infecções recorrentes, o uso prolongado da chupeta (atrapalha na articulação correta e na posição normal da língua e dentes). Por isso a importância de se procurar ajuda especializada assim que perceber algo de errado.
Se você notar que seu filho ainda não está falando todos os fonemas esperados para idade dele, pode ser que ele esteja com uma alteração na linguagem. É necessário que ele faça uma avaliação fonoaudiológica